WILL FOREST
Aos poucos a luz do sol adentrou no
quarto do loiro que passou a noite em claro. Mais uma vez o sono não apareceu e
isso lhe deixou irritado. Seu rosto estava abatido e suas olheiras estavam
escuras devido às noites mal dormidas. Suspirando, ele percebeu que teria que
levantar e se arrumar para a escola. Teria que sair do seu quarto e olhar para
o rosto abatido da mãe que ele apostava que estava arrependida de tê-lo como
filho. Afinal, que mãe gostaria de ter um adolescente perdedor e problemático em
casa? Ainda mais pelo fato dele lembrar tanto o pai.
Sem se importar, ele se levantou e
catou a velha calça jeans jogada ao lado da cama junto ao tênis desgastado e um
suéter qualquer. Em poucos minutos ele estava pronto. Seus cabelos úmidos
permaneceram bagunçados, deixando alguns fios sobre os olhos. Com desanimo
disfarçado de tédio ele saiu do quarto, caminhando pelo estreito corredor até a
pequena cozinha que era dividida com uma sala, ou quase isso. Sua mãe já estava
acordada. O uniforme de garçonete impecavelmente passado e limpo já estava em
seu corpo um tanto magro demais para se considerar saudável.
Antes de anunciar que estava ali,
Will observou sua mãe por mais uns segundos. Os ombros caídos demonstrando seu
cansaço diário e sua tristeza, o cabelo preso e sem vida, a pele mais pálida
que o normal... Tudo isso fez o rapaz lamentar internamente. Ele sabia que o
estado atual dela era sua culpa. Por mais que tentasse ser melhor a confusão o
seguia e quando menos esperava lá estava ele na diretoria ou com o rosto
machucado. Houve um tempo em que Leona Forest ainda brigava, o colocava de
castigo. Mas esse tempo se foi. Ela cansou e percebeu que ele não teria jeito.
Agora, ela apenas ia ao colégio, assinava os papéis, escutava uns sermões da
diretora e ia embora sem falar nada. Sim, Leona era infeliz e Will sabia que ele a deixava assim.
— Estou indo. — avisou, despreocupado, pegando
uma maça que se encontrava em cima da mesa e saindo sem olhar para trás e sem
escutar a resposta dela.
Embora o sol estivesse presente no céu, o
vento ainda gélido do inverno que acabara há pouco tempo fez com que ele
cruzasse os braços. A mochila em seus ombros estava levemente pesada com livros
e cadernos que ele não fazia questão nenhuma de abrir ou tentar aprender. Will
não tinha expectativa de vida, ou pensava em ser alguém importante. No mínimo
seria um mecânico ou trabalharia em alguma loja. Estava bom demais daquele
jeito.
O colégio não ficava tão longe
assim e não demorou mais que dez minutos para que ele chegasse ao portão que
estava quase se fechando. Tomando sua postura defensiva, o loiro abaixou a
cabeça e apressou os passos, tirando a chance de qualquer pessoa conseguir
observá-lo por mais de dez segundos. Não, Will Forest não tinha amigos. Não
precisava deles. Não os queria. Claro que isso fez com que ele virasse o
esquisitão da escola, obviamente. Afinal, quem queria se aproximar de um cara
que só vive em brigas e prefere se isolar do mundo? Sua aparência também não
era atrativa na opinião das meninas. O cabelo vivia bagunçado e caindo sobre os
olhos, sua pele era bastante pálida, diferente do leve bronzeado que os outros
rapazes tinham. Suas olheiras eram visíveis, assim como sua carranca que
permanecia em seu rosto durante todo o dia. Não ser atraente era um problema
para Will? Na verdade não. Ele agradecia por isso, porque se existia uma coisa
que ele não tinha paciência era com garotas e suas frescuras. A realidade era
que ele queria ficar só e fazia questão de deixar isso claro para todos.
O toque indicando o início das
aulas começou e Will se levantou, seguindo em silêncio para a sala. Como
sempre, ele se sentou no fundo, se encolhendo na cadeira e juntando as mãos em
cima da mesa. O barulho das pessoas conversando sempre o deixava estressado –
mais que o normal. Logo o professor entrou em seguida e caminhou a até a mesa,
onde colocou todo o seu material lá. Os alunos imitaram o gesto do professor e
colocaram seus cadernos sobre a mesa, porém o loiro continuou do mesmo jeito,
encarando a mesa e tentando pensar em qualquer coisa além daquela aula chata.
— Will Forest?!
Ao ter seu nome proferido pelo professor, Will
ergueu a cabeça no mesmo instante, percebendo todos os olhares direcionados
para si. Franzindo o cenho ele estranhou. Não se lembrava de nada e tinha
certeza que não havia feito nada de errado.
— A diretora está solicitando sua presença. —
informou o Sr. Kurt, sem ânimo algum.
Em silêncio ele se levantou e pegou a mochila
que se encontrava jogada no chão, ao lado da sua mesa. Os olhares continuaram o
seguindo e o deixando bastante desconfortável, o que fez com que ele respirasse
aliviado quando fechou a porta da sala atrás de si. Os corredores estavam
vazios e isso ajudou bastante embora ele ainda tivesse tentando buscar algum
motivo para estar sendo chamado na diretoria.
Com uma educação forçada, ele rolou os olhos e
bateu na enorme porta de madeira. Esperou alguns segundos e logo a voz fina
soou. Abrindo a porta ele não pôde esconder a surpresa quando percebeu que ele
não era o único ali, mas haviam mais cinco alunos sentados, todos com uma
expressão de dúvida. Com toda certeza eles também não sabiam o que haviam feito
de errado para estarem ali. Olhando para o outro lado, ele observou um homem
sentado, o olhando de um modo que o incomodou. Era como se ele estivesse
tentando lê-lo.
— O que está acontecendo? — Will indagou,
finalmente, não podendo conter o mau humor na voz.
— Sente-se, Willian. — pediu a diretora. Porém
ele sabia que não era um pedido.
Relutante ele sentou e alternava o olhar entre
o homem e os outros cinco alunos.
— Agora que todos estão aqui, podemos ir
direto ao assunto. — a diretora se levantou a caminhou calmamente até o lado do
homem.
Will não acreditava em sexto sentido, mas ele
podia sentir que não iria gostar nada do que estava por vir, e algo lhe dizia
que ele não teria escolha.